Empleo
01 abril 2020

A crise trabalhista gerada pela COVID-19 colocará os jovens em situação de alto risco

Os jovens, que constituem o grupo menos vulnerável ao coronavírus do ponto de vista da saúde, são, no entanto, os mais expostos aos danos que a epidemia poderá causar no mercado de trabalho espanhol.

Assim afirma uma estimativa elaborada pela Universidad Complutense de Madrid que indica que o desemprego vai concentrar-se, como na última crise, entre os assalariados com contratos temporários e nos setores de empregos mais precários. Uma situação que afeta especialmente a população mais jovem, de acordo com dados do último barômetro de emancipação da juventude, as pessoas entre 16 e 29 anos de idade continuam se distinguindo por sua maior taxa de temporalidade (55,3%), desemprego (24,8%), subemprego (15,8%) e trabalho em tempo parcial.

É preciso ter em conta que, antes do início da crise da COVID 19, as pessoas mais jovens já se caracterizavam por uma taxa de exclusão muito superior à das demais faixas etárias. Segundo dados do VIII Relatório FOESSA 23% dos jovens espanhóis entre 18 e 29 anos estavam em risco de exclusão, 11% deles em exclusão grave. Além disso, conforme dados desse mesmo relatório, as transferências sociais têm um impacto muito menor na redução da pobreza entre a população jovem (21% entre os menores de 30 anos), em comparação com 31% para quem tem entre 30 e 44 anos e 85% para a população acima de 65 anos de idade.

No caso da Espanha, a situação de vulnerabilidade que provavelmente vai afetar grande parte do coletivo juvenil pode ser atenuada pela presença de um estado de bem-estar “relativamente” forte. Assim como a rede de segurança que as famílias oferecem, como já aconteceu na crise de 2008. Esse não é o caso na maioria dos países da América Latina e Caribe, com sistemas de proteção social muito mais fragmentados e desiguais.

A CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) estima que a crise do coronavírus vai causar uma contração de 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) da região, o que poderá fazer com que o desemprego aumente em dez pontos percentuais e que existam 35 milhões de pessoas pobres a mais.

Como aponta, Vinícius Pinheiro, diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para a América Latina e o Caribe: “Quando ocorre uma crise, os jovens estão entre os primeiros a perder o emprego, principalmente quem trabalha na economia informal. E a taxa de informalidade para os jovens na região é de 62,4%, dez pontos percentuais acima da taxa dos adultos”.

Não precisamos esperar pelas possíveis consequências econômicas que a crise da COVID-19 trará para o futuro desses jovens. Para muitos deles, cumprir as medidas de quarentena, que já estão sendo aplicadas em países como Peru, Argentina e Colômbia, implica a perda imediata de recursos essenciais para o sustento de seus lares – independentemente de serem ou não os chefes de suas famílias.

Nesse sentido, além de aplicar as medidas de isolamento recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para refrear a pandemia, os países da região precisam fornecer subsídios financeiros às famílias durante pelo menos seis meses. Como destaca Alicia Bárcena secretária executiva da CEPAL, os países precisam encontrar uma forma de fazer chegar aos lares uma renda mínima cidadã. É a única maneira de tornar sustentável o isolamento preventivo – reduzindo ao máximo a porcentagem de pessoas que terão que deixar suas casas em busca do sustento para viver. Essas medidas já estão sendo adotadas em países como Peru e Argentina, que já anunciaram uma Renda Familiar de Emergência para trabalhadores autônomos em situação de informalidade. Esse subsídio será fornecido em abril, num valor único de 10.000 pesos (150 dólares), que poderá ser repetido em maio.

Em um contexto de retração da economia mundial causada pela pandemia da COVID 19, é essencial promover medidas de estímulo econômico focadas na juventude, conforme ressalta Vinícius Pinheiro. As medidas do lado da oferta (capacitação e formação) são importantes, mas não são suficientes, a menos que sejam acompanhadas de medidas igualmente firmes para aumentar a demanda por mão de obra juvenil.

É importante ressaltar que as políticas a serem adotadas para abordar a questão do emprego para os jovens deverão ter um impacto especial na qualidade desse emprego. A experiência adquirida em crises passadas mostrou que a má qualidade do emprego somada aos problemas de sustento do lar são as causas mais frequentes de exclusão para a população jovem.

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